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Intestino: O “Segundo Cérebro” do Corpo Humano

Intestino: O “Segundo Cérebro” do Corpo Humano

O intestino, muitas vezes relegado a um papel secundário no funcionamento do corpo humano, tem se revelado uma peça-chave na saúde geral e no bem-estar. Não é à toa que o intestino tem sido frequentemente chamado de “segundo cérebro” do corpo humano, uma denominação que tem ganhado cada vez mais respaldo científico. Essa nomenclatura surge a partir da descoberta de que o intestino não é apenas responsável pela digestão dos alimentos, mas também desempenha um papel fundamental na regulação de diversas funções vitais, incluindo o sistema imunológico, a produção de neurotransmissores e até mesmo o humor.

A Complexa Rede de Neurônios do Intestino

O intestino é revestido por uma extensa rede de neurônios, conhecida como sistema nervoso entérico, que contém aproximadamente 100 milhões de neurônios – um número comparável ao encontrado na medula espinhal. Essa rede neural é responsável por controlar diretamente o processo digestivo, desde o movimento dos alimentos pelo trato gastrointestinal até a absorção dos nutrientes e a excreção dos resíduos. Além disso, o sistema nervoso entérico funciona de forma relativamente independente do sistema nervoso central (SNC), embora os dois sistemas estejam em constante comunicação.

De fato, o intestino e o cérebro estão conectados por uma via de comunicação bidirecional conhecida como eixo intestino-cérebro. Essa via envolve sinais enviados por meio do nervo vago, hormônios, e substâncias químicas chamadas neurotransmissores. Entre os neurotransmissores produzidos no intestino, destaca-se a serotonina, um composto crucial na regulação do humor, do sono e até do apetite. Cerca de 90% da serotonina do corpo é sintetizada no intestino, o que sublinha a importância deste órgão no bem-estar mental e emocional .

Microbiota Intestinal e Saúde Mental

Outro fator importante que relaciona o intestino ao cérebro é a microbiota intestinal, o conjunto de trilhões de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal. Esses microrganismos desempenham um papel crucial na digestão dos alimentos e na proteção contra patógenos, mas também têm uma influência significativa no funcionamento cerebral.

Estudos sugerem que a microbiota intestinal pode influenciar a função cerebral através do eixo intestino-cérebro, impactando o comportamento, a cognição e as emoções. Alterações na composição da microbiota têm sido associadas a uma série de condições de saúde mental, como depressão, ansiedade e autismo. Um estudo publicado no Journal of Psychiatric Research em 2017, por exemplo, mostrou que a suplementação com probióticos, que são bactérias benéficas para o intestino, pode reduzir sintomas de depressão e ansiedade em indivíduos com transtornos relacionados ao humor .

O Intestino na Defesa do Corpo

Além de seu papel na saúde mental, o intestino é fundamental para o sistema imunológico. Aproximadamente 70% do sistema imunológico humano está localizado no intestino, onde as células imunológicas monitoram e respondem a microrganismos potencialmente nocivos. O intestino é também responsável por ensinar ao sistema imunológico a distinguir entre substâncias inofensivas, como os alimentos, e ameaças reais, como vírus e bactérias.

Quando essa função é prejudicada, o resultado pode ser uma variedade de doenças autoimunes e inflamatórias, onde o sistema imunológico começa a atacar os próprios tecidos do corpo. O equilíbrio da microbiota intestinal é, portanto, vital para a manutenção de uma resposta imunológica saudável e para a prevenção de doenças .

Alimentação e Saúde Intestinal

A dieta desempenha um papel crucial na saúde intestinal. Alimentos ricos em fibras, como frutas, vegetais e grãos integrais, alimentam as bactérias benéficas no intestino, promovendo um equilíbrio saudável da microbiota. Por outro lado, dietas ricas em açúcares e gorduras saturadas podem promover o crescimento de bactérias prejudiciais, contribuindo para a disbiose, um desequilíbrio na microbiota intestinal que tem sido associado a várias condições de saúde, incluindo obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardíacas .

Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos pode devastar a microbiota intestinal, eliminando tanto as bactérias nocivas quanto as benéficas. Isso pode levar a um desequilíbrio que favorece o crescimento excessivo de bactérias resistentes e prejudiciais, aumentando o risco de infecções e doenças crônicas. A suplementação com probióticos e prebióticos é uma estratégia frequentemente recomendada para restaurar e manter a saúde intestinal, especialmente após o uso de antibióticos .

Conclusão

O intestino, com sua complexa rede neural e microbiota diversificada, desempenha um papel vital na saúde geral do corpo. Como o “segundo cérebro”, ele influencia não apenas a digestão, mas também o humor, o comportamento e a resposta imunológica. Manter uma dieta equilibrada, rica em fibras e probióticos, é essencial para preservar a saúde intestinal e, consequentemente, o bem-estar geral. Compreender a importância do intestino e cuidar dele adequadamente é um passo crucial para promover uma vida saudável e equilibrada.


Fontes:

  1. Mayer, E. A., Knight, R., Mazmanian, S. K., Cryan, J. F., & Tillisch, K. (2014). Gut Microbes and the Brain: Paradigm Shift in Neuroscience. The Journal of Neuroscience, 34(46), 15490-15496.
  2. O’Mahony, S. M., Clarke, G., Dinan, T. G., & Cryan, J. F. (2017). Early-Life Adversity and Brain Development: Is the Microbiome a Missing Piece of the Puzzle? Neuroscience, 342, 37-54.
  3. Sherwin, E., Sandhu, K. V., Dinan, T. G., & Cryan, J. F. (2016). May the force be with you: The light and dark sides of the microbiota-gut-brain axis in neuropsychiatry. CNS Drugs, 30(11), 1019-1041.
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